Artigo

O novo padrão de crescimento

Por Marcelo Dutra da Silva
Ecólogo
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O crescimento econômico tem se pautado, desde o princípio, e praticamente como o único critério, pelo volume de recursos naturais e humanos mobilizados, riquezas geradas e pelo quanto de dinheiro, na forma de investimentos, um determinado empreendimento aporta ou promete fazer circular. Esta é uma régua importante, sem dúvida, é a essência do PIB (Produto Interno Bruto) de uma região ou lugar, mas que tem se mostrado falha para avaliar a força das atividades econômicas e seu verdadeiro impacto na vida das pessoas. 

 Recentemente, o Fórum Econômico Mundial propôs um novo modelo para avaliação do crescimento econômico, ante aos desafios e prioridades locais e regionais, em que considera como pontos relevantes de avaliação, para além do volume de dinheiro que circula, a inovação, a inclusão, a sustentabilidade e a resiliência. Uma revisão significativa na régua, que amplia a percepção do crescimento, que deixa de ter a quantidade como seu único significado e passa a adotar a qualidade como algo tão importante quanto.

Como muito bem foi abordado por Sonia Consiglio, no que compreende a inovação, interessa considerar e conhecer até que ponto a trajetória de uma economia é capaz de absorver, em resposta ao avanço do desenvolvimento tecnológico, social, institucional e organizacional, e usar isso para o crescimento a longo prazo; até que ponto todas as partes interessadas foram realmente incluídas nos benefícios que o crescimento econômico gera (Inclusão); até que ponto essa trajetória pode manter sua pegada ecológica dentro dos limites ambientais finos (Sustentabilidade); até que ponto a trajetória pode resistir e se recuperar dos choques e adversidades (Resiliência).

 O novo padrão econômico exige uma avaliação mais ampliada dos cenários de análise, com múltiplos campos, em que não se pode desconsiderar a responsabilidade das organizações, sejam públicas ou privadas, quanto a proteção do meio ambiente, de atenção social e responsabilidade na governança. Um princípio básico, mas que só agora vem ganhando visibilidade, uma vez que alcança todos os tipos de empresa, independente do porte, do seguimento ou tempo de mercado. E talvez, nunca na história da economia, os valores e princípios estiveram tão próximos de serem mudados.

 A quebra do paradigma econômico vigente - e longe de querer entrar nos detalhes da Teoria Econômica - é algo que vem sendo construído há muito tempo, desde quando se percebeu que o nosso modo de vida, baseado no consumo e desperdício, não encontra sustentação nos recursos naturais disponíveis. Teve início nos grandes debates internacionais da década de 1970 e seguiu nos acordos e políticas públicas signatárias. Nós mesmos, em um determinado momento, justificando a condição de país em desenvolvimento, nos colocamos contrários ao avanço de novos modelos, mas felizmente voltamos atrás. Hoje a realidade é diferente e nos tornamos protagonistas da política ambiental, mesmo que ainda muito distantes de atender as necessidades sociais e de figurar entre as economias mais desiguais.

De outra parte, o Brasil se vê diante da possibilidade de ser a maior economia verde do Planeta, lastreada pela abundância dos recursos, produção de baixo carbono e uso de fontes energéticas limpas. Afinal, já somos o país com a matriz elétrica mais limpa, porém com uma matriz energética muito dependente do petróleo e outras fontes sujas. Claro que estamos fortemente comprometidos, o objetivo de descarbonizar está na ordem do dia, mas ainda não viramos a chave. Algo que somente vai acontecer quando o nosso maior motor econômico, o agronegócio, estiver totalmente inserido neste novo padrão de mercado.

O agronegócio já é o setor econômico que mais adota melhores práticas, mesmo que ainda exista muita resistência e uma forte tentativa, de alguns, em manter tudo como está, para além de toda sorte de interferência política, que só atrasa o processo e não nos ajuda em nada, enquanto nação. Brasil, o país que já está no futuro!

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